Party: Rádio Quântica #6
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Cinco hosts da Rádio Quântica saem do estúdio directamente para as pistas do Lux, em mais uma noite desenhada pela singular plataforma de artistas e activistas do underground português.
www.radioquantica.com
DJ Alexandre Barbosa
mixcloud.com/alexandre-barbosa
soundcloud.com/dj_alexandre-barbosa
A experiência pode, por vezes, explicar algumas das qualidades que distinguem um DJ excepcional de outros com menos horas de voo: um conhecimento musical vasto o suficiente para conseguir ligar melhor e contar histórias mais ricas; uma técnica mais refinada, polida por décadas de serviço; um olho que decifra melhor a pista; um desencanto por modas que o empurram para procurar malhas eternas. Tudo coisas que encontramos em Alexandre Barbosa, o boss de uma das mecas do digging lisboeta: a loja Sound Club, no 1º andar do Espaço Chiado.
Mas tocar desde 1978 e ter passado por casas míticas como o Frágil, Alcântara-Mar, os dois Indústria (Porto e Lisboa) ou Locomia não justificam necessariamente aquilo a que assistimos quando tocou para a Quântica no Lounge em Novembro do ano passado. Magia é daquelas palavras que saltam com demasiada facilidade das mangas de quem escreve textos promocionais mas foi como espectadores de um show de ilusionismo que nos sentimos nessa noite; experiência, por si só, não explica a forma como Alexandre salta entre malhas como "Go" de Moby, "Personal Jesus" dos Depeche Mode ou "Join The Chant" de Nitzer Ebb durante horas sem que consigamos perceber onde está a costura entre cada faixa - e fê-lo só com discos de vinil. Experiência e bom gosto são apenas uma parte da coisa.
Chima Hiro
mixcloud.com/chimahiro
Antes de tudo, Chen aka Chima Hiro é uma fã de música. Isso manifesta-se na forma como dança (se nunca a viram dançar, os nossos pêsames) e na forma como já procurava malhas especiais nos recantos mais inesperados, bem antes de sequer sonhar ser DJ. São fãs da música, antes do processo, ou do medium, ou da estética, ou do lifestyle, os melhores DJs do mundo - e esta DJ fez sempre as coisas pelas razões mais reais.
As faixas que escolhe para o seu programa NYCE & SLO na Rádio Quântica abraçam um espectro tão expansivo e surpreendente como o seu gosto inatacável. Moody mas também colorida, inovadora mas arquetipal - é música que vai do new age ao jazz, passando por beats distorcidos sobre linhas acid tanto quanto por house melodioso e uplifting. O seu caminho no DJing anda a par e passo com a sua estreia em rádio e já levou Chima Hiro a dominar as booths - e, consequentemente, as pistas de dança - de algumas das festas mais entusiasmantes do nosso underground, sozinha ou acompanhada por alguns dos selectors mais certeiros que Lisboa já produziu. Estreia-se agora na pista do Lux, mais do que pronta para misturar as suas armas secretas com house cheio de carácter e algum do techno mais imaginativo que se faz hoje. É uma honra recebê-la nos comandos maiores da nave-mãe.
marum
mixcloud.com/pedromarum
soundcloud.com/pedro-marum
Pedro Marum reside em Berlim mas uma parte considerável da actividade artística e cultural que dirige acontece em Lisboa. Em 2010 fundou o colectivo Rabbit Hole que rapidamente deixou marca no substracto artístico da capital mostrando produção disruptiva nos campos da performance, instalação, DJing, concertos e outras expressões. Na música, a influência de compositores minimalistas, bandas sonoras e de idas a raves despertam em si o amor pelo techno hipnótico, ácido e industrial.
Em 2016 reúne elementos da Rabbit Hole e da Rádio Quântica para produzir uma das festas lisboetas mais marcantes dos últimos anos: a mina. A premissa da mina, de ser uma festa queer, feminista e sex-positive de techno com uma door policy rigorosa e algumas regras simples de civismo e respeito pelos corpos dançantes, em nome do espírito original da rave. Na Quântica tem um show mensal de nome Vantablack que serve como registo das suas novas descobertas musicais, mixes de convidados e conversas sobre club culture.
Telma
mixcloud.com/ourobravo/ob-tapes-7-telma
mixcloud.com/quanticaonline/surf-n-turf-6-by-telma-21-09-2017
Tudo sai mais naturalmente quando é feito entre amigos. E foi assim mesmo, rodeada das pessoas em quem mais confia, que a Telma começou a partilhar discos e a moldar o que viria a tornar-se no seu estilo enquanto DJ. Apareceu também naturalmente a sua vontade de os tocar em ambiente de clube, porque lhe é um espaço familar: passou os últimos anos a escrever sobre espetáculos, a fotografá-los ou relatar noites de pista. Nessas ocasiões, foi ouvindo e observando com cuidado - e, somos testemunhas, todo esse conhecimento acumulado é hoje útil do lado de dentro da cabine, onde a Telma pertence.
No seu serviço de DJ, Telma mostra-nos uma paleta que se revela mais rica e alargada a cada set, desmultiplicando-se entre as sombras mais interessantes do acid, do electro ou do breakbeat, sem deixar para trás a compulsão original do house, do funk ou do disco. Navega com skill e emoção em doses certas entre todas estas coordenadas - às quais vai acrescentando outras, sempre que o entusiasmo da descoberta lhe faz brilhar os olhos. Esse espírito irrequieto e em constante expansão encontra plataforma mensalmente no seu programa Surf N' Turf na Rádio Quântica, manifestando-se também na sua programação das noites R U S T e nas iniciativas do recém-formado coletivo Intera.
VIEGAS
mixcloud.com/joão-viegas5
soundcloud.com/jo-o-viegas-792533053
Quando alguém compreende a luz e a sombra com igual profundidade, isso é provavelmente a definição de ser-se completo. E, no que toca ao DJing, a história é muito parecida. Viegas é o exemplo perfeito dessa dualidade - um disc jockey que nutre uma relação tão próxima com a sujidade e crueza do ghettohouse como com os ambientes etéreos do ambient, acenando no caminho ao sempre onírico contínuo rave, ao EBM ou ao industrial dos anos 90. O trabalho difícil de misturar impecavelmente estas vibrações sem adulterar o flow? Fá-lo sem esforço, porque é assim que acontece quando as coisas vêm de dentro.
Tocou pela primeira vez numa das noites lendárias da Rabbit Hole em formato b2b com marum - e desde então tem feito a sua coisa em algumas das cabines mais emblemáticas do underground nacional, da ZDB ao Damas, passando pelo Maus Hábitos no Porto. 2017 foi um ano particularmente cheio para Viegas - um ano que não só confirmou a sua sensibilidade apurada para reconhecer o que vai sendo vital no contexto clubbing dos dias que vivemos mas também lhe deu a experiência no terreno de que qualquer DJ precisa. Juntou-se à Radio Quântica e começou a transmitir o seu programa Mercúrio todos os meses - onde se estrearam nomes como DJ Saliva, Odete, Ciberpapi, BLEID, Nix ou Stá, artistas-chave do nosso fértil sub-solo sónico que viriam mais tarde a integrar também a rádio. Foi ainda no ano passado que Viegas fez parte do núcleo fundador a mina, a noite techno emancipatória onde é residente. Paralelamente tem desenvolvido um precioso trabalho ao documentar, através de fotografia analógica a preto e branco, a cena queer e rave em Portugal.
Textos: Inês Coutinho
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DJ Alexandre Barbosa
Experience can sometimes account for some of the qualities that make an exceptional DJ stand out among peers with smaller number of flight hours: a musical knowledge that's vast enough to make better connections and tell richer stories; a tighter technique, refined by decades in the game; an eye that can read dancefloors better; a lack of interest in trends and fads, propelling one to look for tunes that can stand the test of time. These are all things that you'll find in Alexandre Barbosa, the man behind one of Lisbon's digging meccas: the Sound Club store, located on the first floor of the Espaço Chiado shopping mall.
But the fact that Alexandre had his start in 1978 and has since then played in legendary venues like Frágil, Alcântara-Mar, both the Porto and Lisbon Indústria clubs or even Locomia don't necessarily explain what we've witnessed when he played for Quântica at Lounge last November. Magic is one of those words that are thrown into promotional texts way too often but it was as spectators at an illusionist show that we felt that night; experience alone doesn't explain how one can jump between tracks like Moby's "Go", Depeche Mode's "Personal Jesus" or Nitzer Ebb's "Joint The Chant" for hours without no perceivable transition points - and he did it just with vinyl records. Experience and good taste are just one part of it.
Chima Hiro
Chen aka Chima Hiro is a music fan first and foremost. That manifests in the way that she dances (we're legit sorry for you if you've never seen her dance) and in how she was already looking for special tracks in the most unexpected corners, well before she would even dream of being a DJ. But the best DJs in the world are indeed music fans above all - before process, or medium, or aesthetics, or lifestyle - and this DJ has always done things for the realest reasons.
The tracks she picks for her NYCE & SLO show on Rádio Quântica embrace a spectrum that is as expansive as it is surprising, just like her untainted taste. Moody but colourful, innovative but archetypal - it's music that touches on new age and jazz as well as distorted beats over acid lines or uplifting, melodic house. Her path in DJing runs paralel to her radio beginnings and has taken Chima Hiro to dominate booths - and consequently, dancefloors - of some of our underground's most exciting parties, wether alone or flanked by some of the most spot-on selectors that Lisbon has produced. This will be her debut at Lux's main floor, and she's more than ready to blend her secret weapons with twisted house and some of the most imaginative techno of today. It's an honour to welcome her to the commands of the mothership.
marum
Pedro Marum is based in Berlin but a considerable part of the cultural and artistic activity directed by him happens in Lisbon. In 2010 he founded the Rabbit Hole collectivo, a cultural association that very quickly left a mark on the portuguese capital by showcasing disruptive artistic production in the fields of performance, instalation, DJing, concerts and other disciplines. In music, the influence of minimalistic composers, movie scores and smoke-filled raves are behind his love for hypnotic, acid and industrial techno.
In 2016 he gathers elements of the Rabbit Hole and Rádio Quântica crews to create what would become one of Lisbon's most talked about parties in recent years: mina. The party was conceived to be a queer, feminist and sex-positive techno rave with a strict door policy and a few simple rules that assure civility and respect for dancing bodies in the name of the original spirit of rave. At Quântica, Marum does the monthly show Vantablack where Pedro shares his latest musical finds as well as guest mixes and talk about club culture.
Telma
Things come more naturally when they're done amongst friends. And that's exactly how Telma started sharing records and shaping what would become her style as a DJ - surrounded by the people she trusts the most. Her willingness to play in club environments came just as naturally, as clubs are a familiar space to her: she spent recent years writing about shows, photographing them or recounting nights out on the dancefloor. In those occasions, she listened and watched closely - and, we're witnesses, all of that accumulated knowledge is now useful inside the DJ booth, where she belongs.
In her DJ service, Telma shows us a palette that reveals itself as richer and broader at each set, branching out between the most interesting shades of acid, electro or breakbeat, never leaving behind the original compulsion of house, funk or disco. She skilfully navigates all these coordinates - and adds news ones as shes goes long, whenever the enthusiasm of a new discovery tickles her fancy. That restless, constantly expanding spirit, finds a platform every month on her show Surf N' Turf on Rádio Quântica, manifesting itself in her R U S T nights programming the and the initiatives of the recently formed collective Intera.
Viegas
When someone understands light and shadow with the same depth, that's probably the definition of being complete. And, when it comes to DJing, it's a very similar story. Viegas is the perfect example of that duality a disc jockey that nurtures a close relationship with both the dirty rawness of ghettohouse and the ethereal atmospheres of ambient, while waving to the oneiric rave continuum, EBM or 90s industrial. The difficult job of impeccably blending these vibrations without compromising flow? He does it without effort, because that's what happens when things come from whithin.
He played for the first time in one of Rabbit Hole's legendary nights, in b2b format with marum - and since then he's been doing his thing in some of the most important booths in the national underground, from ZDB to Damas or Passos Manuel in Porto. 2017 was a particularly full year for Viegas - a year that not only confirmed his sharp sensibility to recognise what's vital in the clubbing context of today but also gave him the hours of experience that any DJ needs. He joined Rádio Quântica and starting broadcasting his show Mercúrio every month - where key artists like DJ Saliva, Odete, Ciberpapi, BLEID, Nix or Stá debuted and would go on to join the station too. Last year, he was also part of the core that founded mina, the emancipatory techno night where he is a resident. In parallel, he has been developing a invaluable work by documenting via analog b&w photography the queer rave scene in Portugal.
Words: Inês Coutinho