Party: LuXX #2 / I Was Here: Yen Sung x Toto Chiavetta

> >

Party: LuXX #2 / I Was Here: Yen Sung x Toto Chiavetta

Em 20 anos, muitas foram as noites em que fomos salvos, em que aprendemos, dançámos e sentimos com os nossos DJs residentes. Por isso e tanto mais, quisemos dar-lhes ainda um pouco mais de tempo, para também nos confiarem o que lhes vai na alma, com a ajuda de alguém em quem eles também confiam. É isso que são as noites I Was Here, o nosso obrigado a quem aqui está sempre, do princípio ao fim, uma folha em branco para que, em back-2-backs especiais com convidados seus também eles especiais, escrevam um bocadinho mais desta história que conta um pouco de Lisboa ao mundo e conta o mundo a Lisboa. Quem melhor para nos trazer um novo amanhecer do que aqueles que aqui já viveram tantos amanheceres?


Texto da Isilda Sanches sobre a Yen sung:

YEN SUNG IS FIERCE!

Algumas imagens da Yen que tenho gravadas na memória:

Em palco com os Da Weasel, no Festival de Vilar de Mouros de 1995. Na XFM, a chegar com a mala de discos para fazer as madrugadas. Nas noites drum'n'bass do Ciclone. E, claro, em incontáveis noites no Lux, a exercer total domínio sobre a pista de dança e todo o universo - Yen tem poderes sobre-humanos, acreditem, é a única pessoa que conheço capaz de ter uma conversa acesa, comer uma maçã e misturar dois vinis, tudo ao mesmo tempo! (eu sei, foi comigo! e a mistura saiu perfeita!). Curiosamente não me lembro de a ter visto no Frágil, no Bairro Alto, mas era difícil entrar no Frágil... Foi lá que ela começou a passar discos, em 1992, no clube com mais onda de Lisboa, uma das poucas mulheres DJ em Portugal. Na altura a sua ligação ao hip hop era forte, Yen também fazia matinés no Trópico, passava discos para os futuros DJs e MCs do hip hop português, tudo descontraído, cheio de sonhos, mas sem ninguém imaginar o que seria a cena 20 anos depois.

Há muitas razões para ver Yen Sung como uma heroína (há fotos dela em Donna Summer, o que ajuda sempre), mas a mais importante continua a ser a música que passa e a forma como consegue tocar as pessoas. Ela não só sabe como despertar e alimentar a nossa vontade de dançar, mantendo pulso firme nas misturas e controlando o flow, como tem jogo de anca para nos dar a volta e surpreender. Mistura novo e velho, o músculo do techno e alma da soul, hip hop, funk, reggae, drum'n'bass, jazz... Yen gosta de música, tem muitos discos (uns 10 mil, à vontade), nem todos fazem perder a cabeça numa pista de dança mas todos têm poderes mágicos que ela domina. Vinte anos de Lux certamente aperfeiçoaram a forma como usa toda essa música incrível a nosso favor.

Yen não se lembra da noite de inauguração do Lux, nem de estar a escolher os discos: "só me lembro de sentir a pressão, estava num estado de ansiedade imenso!", diz, rindo de si própria, enquanto pomos conversa em dia.
Por esta altura, 1998, já estava habituada a conduzir uma pista de dança, o Frágil era um dos clubes mais importantes da dinâmica sócio cultural lisboeta, tinha um público exigente. A equipa do Lux era a mesma, havia um espirito de familia, mas a dimensão, como diz Yen, era "muuuuuuuito maior", o público multiplicado por dezenas. Além disso, Lisboa começava a ser uma cidade cosmopolita como nunca fora, com a Expo 98 a concentrar o olhar em nós e a própria cidade a reconciliar-se com o seu oriente e expandir-se nessa direção. A abertura do Lux marcou definitivamente uma nova era e toda a gente sentiu isso. No caso de Yen, de uma forma mais pessoal, naturalmente. No Lux, sentiu responsabilidade mas aproveitou a oportunidade para o risco e começou a mostrar discos de que gostava e que normalmente não se ouviam em clube.
"Na pista do Lux a abordagem era semelhante à do Frágil, apenas numa escala maior. Mas no Bar foi-nos dada liberdade para fazer outras coisas e na altura havia muita coisa boa que não era de pista mas funcionava muito bem numa ideia de bar dançante...". Fala de Destiny's Child, Missy Elliott, as produções de Timbaland e Neptunes, tudo sinais da efervescência criativa do hip hop e r'n'b que ela gostava de passar. Hoje pode até ser regra ouvir esse tipo de som numa pista de dança, mas, na altura, Yen estava a desbravar caminho e a expôr todo um novo público a essa influência. Fazia-o ao mesmo tempo que passava Jazzanova, ou 4 Hero, e techno e house, e mostrava estar à vontade com vários géneros, coisa que, acha ela, nem sempre jogou a seu favor: "durante muitos anos essa diversidade era vista com preconceito, pensava-se que quem conhece muita coisa, ou passa muita música diferente, não é especialista em nada e eu sou completamente contra essa ideia de especialização". Yen manteve-se sempre fiel à diversidade da sua colecção de discos, mesmo quando tentaram colar-lhe rótulos. Se me permitem a metáfora astrológica (eu sei que ela permite!), como Leoa, nunca foi fácil de domar. Aproveito para lhe perguntar sobre a condição feminina e o Djing, se ser mulher DJ nestes mais de 20 anos foi fácil. "No Lux fui sempre acarinhada, não num sentido condescendente mas enquanto elemento da equipa com contributo válido para dar, mas fora do Lux foi mais difícil conseguir esse respeito, sobretudo em Portugal". Hoje é quase impossível acreditar que há 20 anos se diziam palermices como "as mulheres não podem ser DJs porque as mãos são demasiado pequenas para segurar no vinil” ou, “simplesmente não conseguem acertar batidas” (coisas que a própria Yen mostrou não terem qualquer fundamento porque, em tamanho xs mistura melhor do que alguns djs xxl), mas ela defende que essas ideias só se combatem com trabalho porque, mesmo com os preconceitos dos outros, fica a consciência de que se fez a coisa certa. É por isso, de resto, que ser DJ continua pertinente para ela, e isso passa para quem a ouve.
Claro que Yen podia ser outras coisas. Quando era miúda sonhava ser cantora (e foi, com os Da Weasel), estudou moda e joalharia, sempre teve vários interesses mas nunca planeou ser DJ. Mesmo quando saía à noite para se divertir e dançar: “acho que o Manel (Reis) percebeu antes de mim que eu podia pôr música e acabei por ser DJ com o incentivo dele, mas a verdade é que descobri que gosto imenso disto, de pôr música” (e sente-se a emoção quando o diz).
Yen também editou discos. No início dos 2000 lançou pela Atlantic Jaxx dos Basement Jaxx e assinou uma remistura de Ennio Morricone para a Compost, mas nunca investiu verdadeiramente na sua faceta de produtora. Admite no entanto que sentiu qualquer coisa quando, recentemente, trabalhou com Violet, Bleid, Caroline Lethô e EDND na versão de So Get Up de USL. “Não digo que agora vá começar a produzir, se fosse para isso teria feito mais coisas na altura em que lancei pela Atlantic Jaxx, mas quero voltar a experimentar...”.A frase termina hesitante mas não é preciso esperar muito para ela dizer sem pestanejar “mas eu sou DJ, não sou produtora, o que eu gosto mesmo de fazer é pôr música”.
Confessa nunca ter pensado que passados estes anos continuaria a fazer o que faz com a paixão que ela diz ser fundamental na vida. Yen começou a ser DJ “para experimentar”, descobriu que esse era o seu caminho e não se desviou. Em 20 anos de Lux, a principal mudança será sem dúvida ter sido mãe. O gosto pela música, pela partilha, por ver uma pista de dança feliz, tudo isso e o resto, continuam lá, vividos intensamente. Mesmo o nervoso miudinho antes da noite começar - “acho que é sinal de que me preocupo. Outro dia estava a falar com o Noha (Panda Bear) precisamente sobre isso, e sobre sonhar que estamos em palco e alguma coisa corre mal e como essa angustia nunca desaparece, mesmo quando já se tem muita experiência… isso é importante”. Por isso mesmo, há um misto de entusiasmo e ansiedade quando pensa no back2back com Toto Chiavetta, que não conhece pessoalmente mas cuja música segue há algum tempo. Toto é italiano, está ligado à Innervisions e à Yoruba Records de Osunlade, partilha muitas referências com Yen e tocar com ele representa também um desafio. Como já percebemos, Yen gosta de desafios, foi aliás por isso que tudo começou e é por isso que continua.
Sempre curiosa, inspiradora e destemida, a minha amiga Yen! Respect!



Toto Chiavetta
soundcloud.com/toto-chiavetta
residentadvisor.net/dj/totochiavetta

A vida também é feita de boas surpresas. Não é que a vinda de Toto Chiavetta seja para nós surpresa ou acidente. Não, é antes o reconhecer de uma longa e produtiva carreira que se estende até agora desde a década de 90. Mas admitimos que talvez possam não o conhecer assim tão bem, por isso convidamo-vos a perderem-se nesta sua estreia em Santa Apolónia – e arriscarem-se a acabar a noite a perguntar quando será a próxima.

O italiano tem um som de fortes influências tribais, que foge da simples percussão definida com certos elementos expectáveis numa ou noutra posição da batida apresentada. Com um álbum na Yoruba, de Osunlade, e outro na Innervisions (essa mesmo de Dixon, Âme e Henrik Schwarz), catapultou-se para a fama com os fãs das influências melódicas e evocações xamânicas, e diz procurar sempre a opção certa para dado momento na pista. Afinal, que mais queremos de um DJ? Adepto dos sets longos e de sítios onde tudo esteja a contribuir para um grande resultado final – luzes, PA, público -, estão reunidas todas as condições para esta recepção a Toto. Numa noite especial que celebra os nossos residentes, Toto Chiavetta vai ser residente por uma noite. E que noite.


Texto: Inês Duarte


#luXXfragil



:::::::::: ENGLISH ::::::::::



Toto Chiavetta

Life is also made of good surprises. It’s not that Toto Chiavetta’s coming is a surprise or an accident. It isn’t, it’s rather a celebration of his long and productive career that goes all the way back to the 90s. But we admit that some of you might not know him well enough, so we invite you to get lost here at his debut at Lux – and risk ending up wondering when his next night will be!

The Italian DJ and producer has a sound full of strong tribal influences, refusing to adhere to set notions of where to stick a clap or a hi hat. With an album out on Osunlade’s Yoruba and another on Innervisions (yeah, that one), he rose to fame with those who appreciate melodic influences and almost shamanic like invocations, and says he’s always looking for the right choice for the dancefloor, at any given moment. What else to want from a DJ, really? A fan of long sets and places where everything comes together for a great show – the lights, the soundsystem, the crowd – all will come through for welcoming Toto. On a special night where we also celebrate our resident DJs, Toto Chiavetta will be resident for a night. And what a night!